Depois desse barulho infernal, nesta manhã domingueira, o que é que se pode esperar daqui por diante até que chegue o dia da eleição?…

Alguém me perguntou, um dia desse, quando é que vocês viajam? Ora, ora, leitor, depois do que vi e ouvi, aqui na praia, em termos de poluição sonora, a pergunta soou como uma tentação. Sim, arrumar as malas, pegar um avião e adeus barulho. E rever as cidades civilizadas, onde o silêncio é respeitado. Mais do que respeitado: reverenciado.

Fico a imaginar uma propaganda barulhenta, como essa que estamos presenciando no período eleitoral, numa cidade do primeiro mundo… Seria um escândalo, caso de polícia, protestos nas ruas, na TV, nos blogs, em toda a parte. Agora é proclamar com toda a força dos pulmões: bem-aventurados são os surdos, que não tomam conhecimento desse escândalo sonoro, tão prejudicial à saúde.

Estou escrevendo estas notas e ouvindo a barulheira. A impressão que tenho é de que são cães raivosos, soltos na rua, ou loucos recém saídos dos manicômios. E os que estão financiando tal tipo de propaganda eleitoral, decerto, descansam em suas casas, certamente com os ouvidos atentos ao barulho, e sem dúvida, dizendo para os seus familiares, sorrindo: “nós estamos gritando mais!” Sim, o negócio é gritar, e esquecer dos que estão nos hospitais, dos que estão repousando em suas casas, das crianças recém nascidas, idosos, enfermos e assim por diante. Curioso é que os promotores e financiadores do barulho não aparecem nos carros, saudando os seus possíveis eleitores.

Mas cadê os encarregados de cumprir a lei do silêncio? Será que fugiram para não presenciar tal absurdo? Sim, por que o olhar compromete quem olha, quem testemunha um crime. Assim mesmo estou ainda confiando nos cumpridores da lei. Não é possível que aconteça de novo, no próximo domingo, o que estou testemunhando, nesta manhã de sol, com o mar ali perto, o céu limpo de nuvens.

E fico pensando, que autoridade tem um provocador de barulho para defender o meio-ambiente? Curioso: depois das 22 horas, ninguém pode fazer barulho em respeito aos que estão dormindo. É o que diz a lei. Aí vem a pergunta: será que os destruidores do silêncio, gostariam de ser incomodados a esta hora? Ainda bem que tive a ideia de gravar a barulheira para mostrar lá fora…

Carlos Romero

 

Publicado no jornal “Correio da Paraíba”, em 06 de setembro de 2010.